sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Revista Exame


Revista Exame - 8 homens de negócio mórmons à frente de grandes empresas

Praticantes da religião se destacam em companhias brasileiras e no exterior


Marcela Ayres, de exame.com
Se Mitt Romney levar as eleições, EUA terão presidente mórmon

São Paulo - Na religião que proíbe café, bebida alcóolica e cigarro, impera a obstinada dedicação à família e ao trabalho. Muito trabalho. Mantida pelo dízimo de 10% da renda líquida dos seus fiéis e alimentada por uma miríade de empreendimentos próprios, a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias ganhou evidência com a disputa presidencial nos Estados Unidos, já que o candidato republicano Mitt Romney é mórmon. Fundador e ex-ceo da Bain Capital, empresa de private equity que administra cerca de 65 bilhões de dólares, ele engrossa a lista dos seguidores que são bem sucedidos no mundo dos negócios.

Organizada como uma corporação, a própria Igreja é tida como exemplo de sucesso empresarial, reunindo ativos imobiliários, uma seguradora, empresas de mídia, gestora de recursos e até uma prestadora de serviços para hospitais. Não por menos, um estudo conduzido pela Reuters em parceria com o professor de sociologia Ryan Cragun, da University of Tampa, estima que ela valha cerca de 40 bilhões de dólares - mais que o Banco do Brasil na bolsa. O levantamento também aponta o recolhimento anual de 8 bilhões em dízimo. A instituição divulga uma base de 14,4 milhões de seguidores no mundo. Na prática, é como se cada um deles doasse pouco mais de meio milhão de dólares aos seus cofres todos os anos, o que não deixa de dar uma boa ideia sobre a conta bancária dos fiéis.

Uma das explicações para a bonança é a disciplina enraizada desde cedo entre os mórmons. Assim que completam 19 anos, muitos tornam-se missionários em outros países. Treinados para "vender" os dogmas religiosos, acabam levando o aprendizado para outros campos. O financeiro é notadamente um deles. Veja, nas fotos a seguir, outros 7 executivos mórmons que estão por trás de companhias milionárias:

David Neeleman, fundador da Azul e da JetBlue

Mórmon e americano, Gary Neeleman havia atuado como missionário no Brasil. Terminado o tempo de serviço, ele não se esqueceu do país. Voltou para os Estados Unidos, se casou e trouxe a mulher para cá, onde passou a trabalhar como jornalista correspondente da United Press International. Seu segundo filho, David, nasceu e passou parte da infância no país. Repetindo os passos do pai, também retornou ao Brasil para trabalhar como missionário no começo da vida adulta.

Mais tarde, Neeleman - o filho - ganharia notoriedade como o criador da companhia área JetBlue nos Estados Unidos (no ano passado, a empresa faturou 4,5 bilhões de dólares). Em 2008, foi a vez do executivo fundar a Azul por aqui. Depois de anunciar a fusão de suas atividades com a Trip, a companhia passou a deter 10% de participação no mercado brasileiro, com uma frota de 55 aviões e 400 voos diários.

J.W. Bill Marriott Jr., CEO da rede de hotéis Marriott

Filho do fundador da Marriott International, J.W. Marriott Jr. transformou o restaurante da família em uma rede hoteleira presente em mais de 73 países no mundo. Na cadeira de CEO desde 1972, o executivo é outro seguidor da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.

O sobrenome da família, inclusive, batiza a escola de negócios da Brigham Young University, instituição que pertence à Igreja e fica localizado no estado de Utah, conhecido por concentrar muitos fiéis da religião. A grade do curso também revela um pouco sobre a formação mórmon: independente da graduação escolhida, os alunos são obrigados a fazer aulas de religião e de ética nos negócios para se formarem.

Carlos Wizard Martins, presidente do grupo Multi

Carlos Wizard Martins estudou na Brigham Young University, a universidade da Igreja. De volta ao Brasil e com o inglês afiado, começou a dar aulas da língua estrangeira em casa. Em 1987, criou a rede de idiomas Wizard, buscando replicar o jeito mórmon de ensinar de línguas, com resultado em oito semanas.

Hoje, o grupo Multi, do qual é dono, também tem sob seu guarda-chuva as empresas Yázigi, Skill, Alps, Quatrum, Microlins, SOS, Bit Company, People e Smartz. No ano passado, o faturamento da holding foi de 3 bilhões de reais. Autor do livro "Desperte o milionário que há em você", o empresário afirmouà EXAME.com que demorou cerca de cinco anos para ganhar o primeiro milhão desde a abertura da primeira unidade da Wizard. O grupo Multi, segundo ele, teria sido responsável pelo aparecimento de mais de 100 outros milionários no país.

Nolan Archibald, presidente do conselho da Stanley Black & Decker

Em 2010, a fabricante de ferramentas Black & Decker foi comprada pela Stanley Works em uma transação de 4,5 bilhões de dólares. Com a operação, Nolan Archibald, então CEO da empresa, passou a ser o presidente do conselho de administração da companhia resultante da fusão. No ano passado, ele embolsou 64,4 milhões de dólares pelo cargo.

Bastante ativo na comunidade mórmon, Archibald foi bispo da Igreja e presidente da estaca (líder de uma subdivisão semelhante a uma diocese). Na foto, ele aparece à direita, ao lado do candidato Mitt Romney e do senador Orrin Hatch, que também pertence à Igreja. 

Francisco Valim, presidente da Oi

No comando da terceira maior empresa de telecomunicações do Brasil, fruto da união entre Oi e Brasil Telecom, Francisco Valim tem nas mãos o desafio de fazer crescer uma companhia que faturou 28 bilhões de reais em 2011. O executivo, que esteve à frente da NET entre 2003 e 2008 e capitaneou mudanças que fizeram o valor de mercado da empresa subir 140% durante a sua gestão, deverá tocar um plano de reestruturação na Oi, com desembolso de 5 bilhões de reais até 2015.

Mórmon e com passagem pelo exército, ele já afirmou em entrevista dada à VOCÊ S/A que acredita que Deus fala com os homens e que já teria recebido respostas nas muitas vezes em que pediu ajuda ao plano superior para tomar decisões. 

Eric Varvel, CEO do banco de investimento do Credit Suisse

Presidente-executivo da divisão global de banco de investimento do Credit Suisse, Varvel é outro formado na Brigham Young University. No começo do ano, o executivo enviou e-mails a subordinados pedindo colaborações para a campanha de Mitt Romney, expondo suas conexões com o candidato mórmon.

Na juventude, Vervel passou pelo Provo Missionary Training Center, onde os jovens se preparam para partir em missões pelo mundo. De um a três meses, a rotina inclui 10 horas diárias de estudo. A folga semanal é de apenas um dia. E é durante esse tempo que os mórmons lavam suas roupas e se comunicam com parentes por cartas.

Edwin Catmull, co-fundador da Pixar e presidente da Walt Disney Animation Studios

Ganhador de um Oscar por suas contribuições à animação gráfica, o homem por trás de desenhos como Toy Story, Os Íncriveis e Up cresceu em uma família mórmon. Apesar de inúmeras listas colocarem Catmull no rol de adeptos da religião, não há nenhuma indicação formal que ele tenha permanecido ou abandonado a Igreja.

O engenheiro da computação começou a trabalhar no New York Institute of Technology logo após se formar na University of Utah. Seu trabalho despertou a atenção de George Lucas, que mais tarde vendeu a divisão de computação animada da sua empresa para ninguém menos que Steve Jobs, desacreditado pelo mercado após sua saída da Apple. Nascia aí a Pixar. Em 2007, a companhia foi comprada pela Disney por 7,4 bilhões de dólares. 



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